É tudo bege, o velho charuto e o Peugeot 403 conversível saíram de cena. Morreu na madrugada do dia 23 de junho o ator norte-americano Peter Falk, que ficou conhecido no mundo todo por seu papel mais famoso, o detetive Columbo, personagem de uma série de televisão que levava seu nome. Falk, que sofria há anos com o Mal de Alzheimer, teve falência múltipla dos órgãos e faleceu em sua casa, no bairro de Beverly Hills, em Los Angeles (EUA).
Nascido em Nova York em 1927, Falk teve o olho direito removido cirurgicamente aos três anos de idade por conta de um tumor maligno. Sua prótese de vidro, que lhe custou alguns papéis no início da carreira como ator, tornou-se uma das marcas principais de seu personagem mais marcante.
bo perseguiu criminosos por 35 anos na televisão americana. O personagem foi introduzido num telefilme de 1968, antes de ganhar sua série nos anos 1970, pela qual passaram diretores do calibre de Steven Spielberg (“O Resgate do Soldado Ryan”) e Jonathan Demme (“O Silêncio dos Inocentes”).
Seu método de investigação destoava do estilo machão de “Kojak”, “Baretta” e dos demais detetives da TV, pois ele parecia relapso, fazendo perguntas tolas e apresentando-se de forma displicente, deselegante até, com seu sobretudo amarrotado. Era infalível. Os criminosos o subestimavam e inevitavelmente caíam na armadilha, entrando em pânico diante da última pergunta, que resolvia o crime pela lógica.
Assassinato S.A.: indicação ao Oscar
Columbo se tornou tão popular que, após o fim da série, continuou voltando em telefilmes, até 2003. O personagem rendeu à Falk quatro prêmios Emmy (1972, 1975, 1976 e 1990), de um total de dez indicações. Não por acaso, o sobretudo beje virou uma espécie de segunda pele do ator, aparecendo também fora da série, em filmes como “O Detetive Desastrado” (1978).
“Just One More Thing”, bordão usado por Columbo para começar a frase que desvendava o caso, acabou virando o nome da autobiografia do ator, lançada em 2006.
Com o diretor John Cassavetes, com quem rodou quatro filmes independentes
Apesar do sucesso de “Columbo” eclipsar tudo o mais em sua carreira, Peter Falk também obteve sucesso no cinema e no teatro, tendo conquistado duas indicações consecutivas ao Oscar como ator coadjuvante por “Assassinato S.A.” (1961) e por “Dama por um Dia” (1962).
Falk recebeu ainda um prêmio Tony por seu desempenho na peça “O Prisioneiro da Segunda Avenida” (1972). Na TV, participou também de dezenas de séries clássicas, como “Cidade Nua”, “Paladino do Oeste”, “Os Intocáveis”, “Alfred Hitchcock Suspense”, “Além da Imaginação” e “Dr. Kildare”.
Com Jack Lemmon, em A Corrida do Século
Formado em Ciências Políticas pela Universidade de Siracusa, antes de virar ator ele trabalhou como funcionário público. Mas o que queria mesmo era ingressar na CIA (agência de inteligência dos EUA), o que seu defeito físico impediu.
Em 1957, abandonou o emprego e dedicou-se à dramaturgia, principalmente por amar a comédia. De pequenas peças nos teatros comunitários, passou aos palcos da Broadway e, mais tarde, alcançou Hollywood. Estreou no cinema em 1958 com uma modesta participação em “Jornada Tétrica” e ultrapassou a marca de 60 filmes na carreira.
Com Peter Sellers em Assassinato por Morte
Entre as comédias clássicas das quais participou, destacam-se “Deu a Louca no Mundo” (1963), “A Corrida do Século” (1965), “Os Prazeres de Penélope” (1966) e o cultuadíssimo “Assassinato por Morte” (1975), todas em papel coadjuvante, mas roubando a cena de atores consagrados, como Spencer Tracy, Tony Curtis, Jack Lemmon, David Niven e até Peter Sellers.
Embora tenha se destacado numa época em que ser “ator de TV” era um estigma, teve o privilégio de trabalhar com cineastas consagrados, e estrelou clássicos como “Asas do Desejo” (1987), de Wim Wenders, “O Jogador”, de Robert Altman, e quatro filmes do “pai” do cinema indie John Cassavetes – “Os Maridos” (1970), “Uma Mulher Sob Influência” (1974), “Opening Night” (1977) e “Um Grande Problema” (1986).
Com Bruno Ganz, em Asas do Desejo
Trabalhou ainda com Sydney Pollack (“A Defesa do Castelo”), Giuliano Montaldo (“A Fúria dos Intocáveis”) e William Friedkin (“Um Golpe Muito Louco”). Foi o vovô narrador do cultuado “A Princesa Prometida” (1987) e participou do primeiro filme do diretor Jon Favreau, “Crime Desorganizado” (2001).
Entre seus últimos filmes estão a animação “O Espanta Tubarões” (2004), a sci-fi com Nicolas Cage “O Vidente” (2007) e o desconhecido “American Cowslip” (2009), com Val Kilmer no elenco.
Com Nicolas Cage em O Vidente
Peter Falk sofria de Mal de Alzheimer há alguns anos e, em 2007, um dos médicos responsáveis por seu tratamento declarou que o quadro de demência do ator estava tão avançado que ele nem se lembrava de seu passado e da série que o consagrou.
Em 2008 foi visto caminhando desorientado pelas ruas de Beverly Hills, o que confirmou o triste estado do astro. Sua filha Catherine Falk tentou ganhar na justiça a custódia do pai, porém Shera Danese, sua segunda esposa, continuou como sua responsável até sua morte.
Peter Falk como o detetive Columbo
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